Jornada Científica e Tecnológica e Simpósio de Pós-Graduação do IFSULDEMINAS, 5ª Jornada Científica e Tecnológica e 2º Simpósio da Pós-Graduação

Tamanho da fonte: 
EUCLIDES DA CUNHA E A DESCRIÇÃO DO SERTANEJO
Anne Caroline Tavares Fagundes

Última alteração: 2013-10-17

Resumo


No livro “Os Sertões” Euclides inicia, expondo o autoctonismo do “homo americanus”. Depois considera a influência da variabilidade mesológica nos três elementos essenciais de nossa formação étnica, dando a gênesis das sub-raças, mestiças, do Brasil. Daí a heterogeneidade racial brasileira e a impossibilidade de futura unidade de raça entre nós, devido a particularidades específicas de cada elemento formador, tão díspar. Para confirmar sua teoria cita exemplos em nossa História.

Mostra o jagunço em sua gênesis, esparramando-se do Maranhão a Bahia, passando pela gênesis do mulato. Expõe a função histórica do Rio São Francisco na dinâmica social dos jagunços, descendentes de paulistas, e no aparecimento dos vaqueiros que se insularam nas regiões do interior. Nesse ponto surge Canudos, aglomerado de alimentos de uma subcategoria étnica já constituída: o sertanejo do norte. Mas a mistura de várias raças dá o tipo desequilibrado, possuidor da moralidade rudimentar das raças inferiores. Insulados, ficaram porém livres de uma adaptação, penosíssima, a um estágio social superior. Faz análises desses nossos patrocínios: o sertanejo, o gaúcho, estabelecendo comparações entre eles. Fala sobre o jagunço, as vaquejadas, a arribada.

Descreve as tradições dos vaqueiros, o estouro da boiada, o folclore, a influência das secas, a religiosidade mestiça. Conclui que as agitações sertanejas são baseadas no fanatismo. Canudos, por exemplo, é uma agitação nordestina, baseada no fanatismo. Monte Santo já era um lugar lendário. Daquela complexidade étnica e sob aquelas influências ecológicas e sociológicas era inevitável o aparecimento de um Antônio Conselheiro. Fizeram-no santo devido ao seu misticismo estranho, quase um feiticeiro. Ele não deslizou para a loucura, porque o ambiente o amparou, respeitando-o. Antônio Conselheiro descendia de cearenses do norte, de gente arrelienta que há 50 anos sustentava uma rixa de família. Infeliz no casamento-abandonado pela esposa raptada por um policial, e por isso fulminado de vergonha - embrenha-se nos recessos dos sertões, surgindo incógnito, missionário sombrio, no nordeste baiano. Era produto condensado do obscurantismo de três raças, criando em torno de si lendas que se espalhavam por toda aquela imensa região. A Igreja tentou intervir, inutilmente. Canudos, que era um lugarejo obscuro antes da vinda do Conselheiro, revivesse com sua chegada, em 1893, crescendo rapidamente, a pau a pique, chegando a possuir 5000 casas, com 15000 a 20000 habitantes.

Todo sertanejo que ali chegasse tornava-se logo um fanático. E, como muitos deles eram bandidos, saqueavam lugarejos, conquistavam cidades vizinhas, depredando-as. Eram subchefes do Conselheiro; José Venâncio, com 18 mortes; Pajeú e seu ajudante – de – ordens Lalau; Chiquinho e João da Mota, Pedrão, cafuz brutal; Estevão, disforme, tatuado à faca e à bala; Joaquim Tranca-pés; “Major” Sariema; o tragi-cômico Raimundo Boca-Torta, do Itapicuru; o ágil Chico Ema; Norberto; o velho Macambira e seu filho Joaquim; Villa-Nova; a figura ridícula, de mulato espigado, de Antônio Beato, meio sacristão e meio soldado; e o chefe de todos João Abbade. Pregavam contra a República, sem convicção, mais “como variante forçada ao delírio religioso”. Um capuchinho lá estivera para convertê-los todos. Nada conseguira. Voltando, amaldiçoa a vida.


Texto completo: PDF